sábado, 3 de dezembro de 2011

A rua



A rua, de braços abertos, me chama, me convida para sair e então
Saio. Saio, caminho até o cansaço vir ao meu encontro e zombar
Da minha fraqueza. O sol esconde-se em sua sombra e de lá me
Olha, observa a minha caminhada e acha graça ao perceber eu
Querendo me esconder do seu calor. A rua me traga, me engole,
Me faz chegar ao seu intestino e ali me perco, olho para trás e
Percebo que fui longe demais e desisto da idéia de voltar. Ao meio
Dia a sombra sai para o almoço e o vento preguiçoso descansa e
A brisa não consegue amainar o calor insuportável que
Quer me sufocar.

Estou no meio da rua, sob o sol inclemente que faz o suor jorrar
Do meu corpo, enquanto lhe peço um pouco d’água. Bebo, bebo
O suor salgado que escorre por entre meus lábios ressequidos,
Bebo! Bebo o que imagino ser os meus lábios molhados, enquanto
Me percebo sendo engolido pela distância que parece não ter fim.
Sigo! Sigo caminhando na rua que me engole. Permaneço no meio
Da rua que durante o dia não me protege do sol, que no entardecer
Não me refresca e durante a noite me deixa no frio.

Caminho em rua que não me permite fugir. O dia acabou, partiu
Sem se despedir de mim. A lua surge no céu, aparece tímida numa
Noite de poucas estrelas. Ela parece sem coragem de me dizer que
Não será minha cúmplice. Estou no meio da rua, caminho a rua,
Uma rua que não me permite fugir. Caminho, ainda que sabendo
Que nesta rua não serei feliz, caminho. A rua me chama, me
Convida a caminha-la e então vou.

                                                                                   Mauro Lucio


                                    *


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