sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Sol do meio dia


Com as mãos nos bolsos, sob o sol inclemente, desço a rua
arrastando, insolentemente, os meus chinelos.
O sol mente!
O sol mente dizendo que não me queimar, enquanto me 
queima.
Apesar de tudo creio que o sol não furtará os pensamentos
que, descuidados, rolam em minha mente implorando para
serem pensados, e eu os penso. 
Penso, penso sobre; quando terá sido a última vez que 
passei por esta mesma rua que agora, displicente, caminho.

O sol é escaldante, o vento com preguiça de soprar, sopra
preguiçosamente enquanto o calor abrasador desove os 
pensamentos que vagam em minha mente. 
Desço a rua calmamente enquanto procuro em meus 
bolsos o que não encontro em minha cabeça. 
Por que insisto em viver a vida quando vida não se 
importa comigo? 
Desço a rua com as mãos no bolso e sigo assim sem a
intenção de chegar a lugar algum.

Com a mente obstruída pelo calor do sol desço a rua com 
passos displicentes, louco para chegar onde o dia nasceu.
De repente paro!
Paro diante de um pensamento que há muito perdi e que
agora, senhor já idoso, retorna para me questionar. 
O sol é escaldante e os meus pés, descalços, caminham
sobre o cascalho quente que o vento com preguiça se 
recusa a soprar.
Enquanto desço a rua com a mente repleta de pensamentos
que odeiam serem  pensados, o sol chicoteia a minha pele
querendo me obrigar a voltar para casa. 

                     Lido da Silva - Brasília, janeiro de 2012.


                                    *


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