sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Terra seca - Dry land


A terra seca abre-se em fendas inócuas,
Rasgadas pelo calor do sol e 
Alimentada pela sede. 
A terra sedenta, rachando em fome 
Voraz, engole os corpos que lhe caem 
Goela abaixo e regurgita, regurgita em 
Soluços descontrolados mas não vomita
E, satisfeita,  expressa a sua satisfação 
Com um sonoro arroto.
A terra, apaixonada como uma mãe por
Seus  rebentos, acolhe em seu ventre a
Sua cria e a cria. 
A terra cria as suas crias antes de o sol do
Meio dia vir rouba-las, e então morre.
 A terra morre sem derramar uma única 
Lágrima, e bebe as lágrimas que lhes 
Derramam sobre o ventre que incha. 
Incha como uma ferida, incha como os 
Olhos cansados de chorar, como um 
Corpo mordido e morde a todos que com
Ela se deitam. 
A terra faminta  abre-se em fendas onde 
Repousa os espíritos que perderam suas 
Moradas. a terra faminta acolhe o corpo 
De todos que foram abandonados pela 
Vida, e vive de agasalhar corpos frios que
Perderam-se como corpos e transforam-se 
Em pó.
A terra, apaixonada como mãe por sua
Prole, abraça a todos que nela buscam
Refugio e soluça. A terra chora o último
Choro da despedida, ela  regurgita em
Soluço, mas o faz  sem vomitar. 

                          *


Dry land


The dry land opens into innocuous slits
Torn by the heat of the sun, and fed
By thirst. Thirsty the land splitting in
Ravenous hunger, swallows bodies that
Fall into her throat and regurgitate, the
Land regurgitates in an uncontrolled
Hiccups but do not vomits and, satisfied
She expresses satisfaction with a
Resounding belch. The earth, in love as
A mother by her offspring, receives in
Her womb her creates and creates it.
The earth creates her young before the
Midday sun come and steal them, and
Then the land dies. The land dies
Without spilling a single tear, and drink
The tears that was poured out over her
Belly that swells. The belly´s land
Swells like a sore, swollen as a tired
Eyes from crying, as a body bitten and
Bites everyone that lies with her.
Hungry, the land opens her body where
Lays the spirits who has lost their homes.
Starving the earth hug the bodies of all
That were abandoned by life, and lives
From wrap cold bodies that lost
Themselves as bodies, and were  
Transformed into powder. The land,
Passionate as mother for her offspring,
Embraces all who seek shelter on her
arms and sobs. The land mourns the
Last cry of farewell, she regurgitates
In hiccup, but she does it without
Vomiting.


                            *




 




3 comentários:

  1. Meu amor, que poema tocante!
    Fez-me recordar a minha terra tão sofrida - o "sertão cearense"!
    Fico impressionada com a sua sensibilidade de falar de questões sociais tão amplas e sutilmente nos convidar à reflexão da nossa responsabilidade sobre o caos total no ambiente planetário.

    Beijos mil, poeta lindo!

    ResponderExcluir
  2. Oi linda! Obrigado por tuas palavras carinhosas.
    Seca, secas e mais secas. Todas secas que ha muito deveria não mais acontecer. Miséria e sofrimentos evitaveis mas que, infelizmente, continuar atormentando a vida de milhoes de brasileiros.

    ResponderExcluir

O “daqui a pouco”.

Não sou tolo para acreditar no que o “daqui um pouco” está a me contar. A farsa disfarça e  esconde a verdade sobre a qual ela não quer fala...