quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Intervalo


Entre o agora e o então,
Há tanto tempo neste tempo,
Que decido pelo “se não”.

Se não sofro, não choro,
Se não amo, talvez não seja amado,
Se não chamo, não serei respondido.

Entre o agora e o daqui a pouco,
Há “tantos poucos” que vira um monte,
Um monte de coisas que se perdem.

Perdem-se os segundos,
Perdem-se os minutos,
Perdem-se as horas.

Entre o agora e o então,
Há tantos desconhecidos,
Que decido por estar só.

Sem você,
Sem eu,
Sem nós, e com o adeus.


           @

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Trejeitos


Repousando ao meio a sentenças,
Incapaz de raciocinar,
A vírgula aguarda os pensamentos
Que ainda não chegaram, para
Sua lógica terminar.

O ponto e vírgula, sujeito indeciso,
Não se define entre o seguir
E o parar, vive de delongas e,
De delongas em delongas,
Obriga o tempo o esperar.

Dois pontos, sem solicitar licença,
Ele pede aparte e da o seu pitaco.
Intrometido, informa e pede
Informação. Ele é atrevido mas
Sempre que pode dá uma mão.

O hífen, como um desagregador,
Separa os que viviam juntos e,
Como um bom alcoviteiro, une
Aqueles que nunca quiseram
Juntos estar.

A exclamação é o susto, a surpresa,
O grito que não escapa da garganta,
O silêncio repentino, espanto.

Três pontos, dúvida, indefinição.
Poderia se intriga se não raciocinasse
Tanto, mas é o medo do incerto,
Uma implicância, quiçá vontade de
Levantar suspeita ou aguçar a
Curiosidade.

Interrogação. Inquisidor, ditador,
Acusador e todas as outras dores
Advindas da curiosidade 
E da desconfiança.


                  @ 

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

O teu nome


Chama-te saudade,
Sentimento que o tempo não apaga,
Roupa que não rasga,
Sono que o sono não dorme.

Chama-te tristeza,
Feridas que a saudade traz,
Dores que não deixam esquecer,
Tudo que dói forte ao anoitecer.

Chama-te lágrimas,
Pesadelo que vivo,
O que meu  espirito verte,
Grito que calo.

Chama-te desilusão,
Verdade que machuca,
O amargor da decepção,
O “não”.

Chama-te saudade,
Chama-te saudade,
Chama-te saudade.

                @


quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Desnudo


A roupa que me veste rasga-se,
Traveste-me, mostra-me, fico nu.
Eu nu, a minha coragem esconde-se,
Acovarda-se, sou fraco,
Estou à mercê dos medos.

Os meus medos choram,
Imploram por clemência,
A clemência, inclemente, não os ouve.
Fria como a morte os abandona,
Os entrega as suas sortes.  

As minhas verdades vestem-me,
Desavergonhadamente mostram-me.
Diferente da verdade sou uma ilusão.
Sou o medo, tenho medo dos medos,
Tenho medo de ser uma decepção.

A minha pele desnuda-me,
Mostra-me de qualquer jeito, o medo.
O medo me reconhece,
Percebe os meus medos,
O meu medo das falsas verdades.



               @

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

No encalce da vida


Caminho descalço no encalço da vida,
Vida que vivo a burlar.
Burlando a vida,
Percebo que estou vivo.
Vivo as feridas da vida,
A vida daqueles que, mortos,
Têm medo de falar.

Vivo a estupidez do medo,
Guardo segredos que não deveria guardar,
Tomo as culpas por minhas, e as vivo.
Vivo os ontens como se esses fossem o hoje,
E os pesadelos que não têm fim.
Como ter fim se a vida é infinita?
Estou no encalço da vida.

No encalce da vida canto sua última canção,
Assobio o assobio que o vento me ensina,
Com falsas verdades alegro meu coração.
Um “senão”. Um sentimento inesperado,
O medo em meu encalço me derruba,
Um percalço que tudo muda.
Uma paixão.

No encalço da vida,
Tomo-lhe o que ela me nega.
Fujo dos braços onde braços me atiram,
Durmo as noites que vida me rouba,
Não verto as lágrimas que ela me faz chorar.
Estou no encalce da vida,
Não vou descansar.


                   @

Ana


Ana me beija,
Só me deixe quando o nosso amor acabar.
Veja-me, vença o tempo,
O vento que que vive a soprar.
Ana me beija!
Só me deixe quando a vida nos deixar.

Ana, ontem choveu!
Aconteceu, tudo se deu.
Deu em teu coração,
Na balada do teu amor
Vivo a minha paixão,
Ana não tema, esqueça a solidão.

Ana!
No frescor da tua pele,
Deito-me para te amar.
Amo, amo e amo,
Chamo-te quando penso que não estás,
Ana venha me namorar.

São os teus beijos,
Nossos beijos, nosso jeito de beijar,
Em teus braços gosto de repousar.
Deita sobre o meu peito, venha Ana!
Viva o meu te amar, amemos,
Vamos nos amar.

            @


segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Dance


Que o espírito dance!
Que dance apaixonadamente,
Como se dançando a última paixão.
Que tudo em volta dance,
Que sejamos todos envolvidos
Pelo inebriar das canções.
Dance, dancemos todos,
Dancemos como se dançássemos
A nossa última canção.

Não te quedes escondida atrás dos copos!
Não fujas da paixão.
Deite em meus braços,
Entrega o coração.
Dance, dancemos, dancemos,
A música nos chama!
Ela toma-nos em seus braços e nos leva ao devanear.
Dancemos, deixemo-nos nos apaixonar.
Sintamos o beijo desta linda música a nos beijar.

Que os espíritos dancem,
Que se entreguem ao dançar.
Que falem de amor,
Que se deixem enamorar.
Não te esconda desta canção,
Baile! Baile!
Entregue-se a esta paixão.
A música toma-nos em seus braços,
E com ternura nos conduz ao meio do salão
Dancemos, doemos os nossos corações.

Que os espíritos dancem,
Que dancem, dancem e dancem,
Que explodam de felicidades,
Que transbordem de paixão,
Que dancem esta linda canção.
Dancemos, vivamos uma nova paixão,
O depois não importa,
O amanhã é um outro dia, dance agora,
Só dancemos, dance, dancemos,
Não pensemos, esqueçamos a solidão.
Vivamos as propostas desta linda canção.


                  &

O que foi dito


... e o que dito me bate,
Bate! 
Angustiado peço 
clemencia, mas 
clemencia ele não tem.

O que foi dito,
investido de uma
autoridade que não 
lhe foi dado, me 
bate.

Ele me bate até ás 
lágrimas.
Atira-se em minha 
face até calar-me.

O que foi dito me 
bate.
Atira-se aos meus 
ouvidos e me cala. 
 
Repetindo o que lhe
falei, ao ser 
questionado, nega
o que falou.

Ele diz não guardar 
consigo o que fala 
que esqueceu que
falou.

O que foi dito urra, 
em meus ouvidos,
acusa-me de lhe 
roubar a paz.

O que foi dito está
dito e nem o
arrependimento o
fará voltar atrás. 

O que eu disse me
julga, me condena,
me leva ás lágrimas
enquanto sorri.

Já tendo me 
condenado, o que 
eu disse, não deixa
de me repreender.
 
O que foi dito me 
consome, rouba a 
minha fome e não 
me deixa dormir.

 Lido da Silva - Chuy, fevereiro de 2015

          &

O “daqui a pouco”.

Não sou tolo para acreditar no que o “daqui um pouco” está a me contar. A farsa disfarça e  esconde a verdade sobre a qual ela não quer fala...